A musicalidade começa na percussão e na rítmica
Alunos, Profissionais da música – de palco e de gravação, técnicos … se tem uma coisa no ramo da música que buscamos, de forma unânime, é a evolução. Novidades de cunho técnico, redes sociais, vídeos de divulgação, estudo de repertório, etc… tudo isso faz parte da rotina do músico atual.
No entanto, algumas questões que fazem parte da nossa base artística, em muitos momentos ficam de lado, diante de tantas coisas que temos que dar conta, num cenário de extrema pressão e cobrança (na verdade, qual área profissional está livre disso hoje em dia?!)
Venho aqui para falar de uma questão que atinge a estudantes, músicos já profissionais e todo cenário do ensino musical: a desvalorização de aspectos rítmicos nos nossos estudos, no nosso processo de evolução musical.
Calma, eu explico: a rítmica é um aspecto que está presente em TODOS os instrumentos musicais, em todos os setores do ensino de música, mas não a devida valorização e atenção realizada. Se limita, muitas e muitas vezes, a livros de leitura rítmica que claro, tem sua importância…. no entanto, o universo rítmico é muito, muito além de leitura de padrões e suas execuções. Para entender esse problema, voltemos um pouco atrás em aspectos culturais da história do Brasil.
Tendo como espelho cultural, a Europa, durante enorme parte da sua história, e isso refletido nos conservatórios musicais, o Brasil teve sempre como prioridade no ensino musical a melodia e harmonia como “carros – chefe”. Importante salientar que não me refiro à música criada – que é vasta na riqueza rítmica, mas sim falando sobre o ENSINO MUSICAL.
Tendo também como espelho, mais pra frente, o sistema musical de ensino dos EUA, a padronização e a “metodificação” do nosso sistema musical trouxe benefícios à educação, mas ao mesmo tempo o excesso de padronização (“Esse pattern é de samba ou de baião?!”) deixa algumas questões soltas que dependem também de uma pesquisa mais prática, uma abordagem maior de repertório, e a percepção maior de nuances musicais para se trazer ao instrumento, ritmicamente falando.
E essas nuances começam na valorização da percussão, que por mais que seja um dos aspectos mais fortes da nossa cultura musical, quando se vai para o ensino, não tem o seu devido espaço no ensino base de música, principalmente de instrumentos de harmonia… e acredite, até formações de bateria também sofrem com isso.
Lembro-me de quando tocava com um músico pianista cubano, e ele me contou que uma forma que se enxergava de aumentar a musicalidade de pianistas, guitarristas, e músicos de sopro em cuba, era eles inicialmente aprenderem aspectos básicos da percussão – e até a tocar alguns instrumentos percussivos – antes de se escolher o seu instrumento de especialização em particular. Por aqui, a percussão deveria estar na formação básica de músicos brasileiros. Obviamente não para tocar e executar os instrumentos com habilidade ímpar, mas sim para enriquecer a sua rítmica, toque o instrumento que for. Com certeza a noção de percussão traz muito mais perspectivas de ritmo e suas nuances, claves básicas e divisões de determinados estilos.
Praticamente todos os ritmos do mundo tem a percussão como base – ou na sua estrutura, ou partindo de seus elementos. Um guitarrista ou pianista que exercita desenvolver levadas baseadas (ou dialogando com) na clave de um tamborim de samba, acha muito mais caminhos rítmicos para se tocar, e só isso em si traz um grande benefício : o aprofundamento da linguagem. Pode ter certeza, aquele músico que é bastante requisitado, e possui a tão dita “linguagem”, a “malandragem”, como os músicos costumam dizer, é porque raciocina muito mais ritmicamente na sua forma de tocar, e dialoga muito com as claves rítmicas de determinado estilo.
E como estudar para melhorar minha linguagem rítmica?
Em primeiro lugar, entenda que em muitos momentos no seu ensino musical, existe o preconceito a respeito da percussão na música de uma forma geral, e em muita escola por aí – uma outra hora escrevo a respeito disso, pois só Jazz e Rock não formam músicos prontos para sustentar suas famílias e atuar no mercado de trabalho, é um fato. Se sentir que necessita estudar percussão, é super interessante para entender alguns instrumentos – os principais de cada estilo, principalmente. Entenda como eles dialogam ritmicamente.
Compareça e frequente manifestações culturais percussivas – blocos e escolas de samba ( o nome “escola” não é à toa!), afoxés, maracatus, etc. Pesquise na sua instituição de ensino quais cursos desenvolvem esse conceito.
Rítmica é linguagem, e linguagem é musicalidade, não se esqueça!