Velho amigo
Aprendi a tocar violão na infância.
Toquei bastante na minha adolescência enquanto pensava na vida no meu quarto (sim, quem gosta de tocar um instrumento é capaz de colocar as ideias em ordem enquanto toca… ou aclaramos nossos dilemas porque tocamos? Eis a questão!).
Bom, cá estou eu divagando… o fato é que toquei muito violão quando jovem.
Mas então, veio a vida adulta com outros compromissos e correrias. Meu amigo violão ficou muitos anos em sua capa em um cantinho de casa, em silêncio.
Fico imaginando que tortura deve ser para um instrumento musical ser designado ao silêncio. Talvez eu o tenha feito esperar demais para tirá-lo dali.
Nunca façam isso.
Mas, reconheci meu erro, pedi perdão ao meu violão e estou corrigindo-me.
Minha filha há quase três anos começou a aprender guitarra e então, foi a hora e a vez de meu violão e também a guitarra de adolescência de meu marido fazerem um som novamente. Movidos pelo interesse de nossa filha pela música, resgatamos nossos instrumentos do silêncio.
Ontem, quis treinar meu italiano (sim, estou aprendendo o idioma de meus nonos) cantando. Além de cantar, resolvi também tocar.
Depois de tantos anos sem dedilhar as cordas, vi-me com várias dúvidas de como se faziam algumas cifras nos trastes.
A maioria eu me lembrava, mas algumas (geralmente as pestanas) tive que recorrer várias vezes ao Google. Rs…
Minha filhota havia acabado de chegar da escola. Ficou toda feliz ao ver meu violão livre de sua capa sobre o sofá.
– Mãe, você está tocando?
– Tentei tocar uma música em italiano, filha. Desafio duplo. Cantar um novo idioma e colocar minha memória para funcionar ao lembrar as posições nos trastes. Há 4 delas nessa música que não me lembro.
Ela então pegou o violão.
– Mãe, está desafinado.
– Sim, filha. Tentei afiná-lo, mas não ficou bom ainda.
Ela afinou-o.
– Mãe, quais são as cifras que não se lembra?
Mostrei.
– C#m, G#m, G#, F#m…
Ela então mostrou-me.
Fiquei pensando…
A vida é mesmo um ciclo maravilhoso.
Quando ela era pequena, algumas vezes mostrei-lhe o violão. Ela me pedia para ensinar algumas notas nos trastes. Sua mão, ainda pequena, alongava-se para conseguir alcançá-las.
Hoje, ela com suas mãos crescidas e treinadas faz as notas com hábil facilidade…
E ensina sua mãe as que ela não conhecia ou não se lembrava mais…
Assim, ontem, ficamos ali na sala, mais de uma hora, trocando conhecimentos, ideias de como ficaria melhor tocar tal música, reavivando minha memória e a habilidade de mudar as notas no traste enquanto toco, leio, canto…
Ela adora guitarra, mas agora toca violão também pois os conhecimentos de um servem para o outro.
É legal ver um pedaço de minha adolescência (o violão) nas mãos adolescentes de minha filha.
Eita vida bonita repleta de boas surpresas essa…
Bora fazer um som, filhota!
Momentos parecidos já aconteceram por aqui com a guitarra de adolescência de meu marido também… 🥰🎸🎸🎻🎶🎤👨👩👧
Maria Luiza Simões…@maluescreve